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”A notícia”, gênero feminino

  • anacarolineebp
  • 21 de dez. de 2021
  • 3 min de leitura

A realidade enfrentada pelas jornalistas dentro das redações


Mesmo que a diluição das fronteiras masculinas e femininas nas profissões tenha ocorrido com o passar dos anos, a disputa entre gêneros na inserção profissional ainda faz com que mulheres sejam minoria no jornalismo.




Matéria vencedora da categoria Reportagem Impressa no concurso sobre “A Liderança e o Empoderamento Feminino”, tendo a matéria sido publicada no Diário do Grande ABC e nas plataformas da ONG “500 Mulheres Cientistas". 


Ao pensar no exercício da profissão jornalística a mente da maioria das pessoas é ocupada pelo dinamismo de um cotidiano produtivo, relações ásperas entre profissionais e muita resistência para encarar as mais desastrosas situações do dia a dia. Justamente por isso, o jornalismo e todas as áreas que ele abrange acabaram por crescer na sociedade como uma profissão estritamente masculina.

Até a metade do século XX, mulheres eram contratadas em ambientes jornalísticos apenas como telefonistas, faxineiras ou copeiras e, durante a noite, quando a preparação das notícias matinais fervia, a entrada ou permanência de mulheres no ambiente era proibida. O banheiro feminino sequer existia em algumas redações.

Durante o segundo semestre de 2017, a associação brasileira de jornalismo investigativo (ABRAJI) e a ”gênero e número”, com o apoio do Google news lab, realizaram uma pesquisa com o intuito de investigar os desafios enfrentados pelas mulheres no exercício da profissão jornalística e debater sobre a posição hierárquica no modo como enxergam as perspectivas de gênero nas redações, contando com 477 profissionais femininas da área, que atuam em 271 veículos diferentes e responderam diversas perguntas sobre satisfação, percepção e oportunidades no trabalho.

Com os pontos levantados, o resultado aplicado a um grupo maior durante quatro meses de investigação foi realmente alarmante, como mostra o gráfico a seguir:



Figura 1 - Gráficos da pesquisa "mulheres no jornalismo", via www.mulheresnojornalismo.org.br

A jornalista Paula Craveiro conta que, em 18 anos na área, já teve de lidar com diversas discriminações que relacionavam sua competência com o seu gênero. “Minha carreira no jornalismo, desde o início, foi focada na área financeira e, por ser uma área predominantemente masculina, enfrentei alguns obstáculos, inclusive assédios, além de não ser levada a sério por

ser uma jovem mulher naquele setor. Em certa ocasião, durante uma cobertura, alguns entrevistados falavam apenas com o estagiário que eu havia levado, deduzindo que ele era o jornalista e, eu, a assistente”.



Figura 2 Gráficos da pesquisa "mulheres no jornalismo", via www.mulheresnojornalismo.org.br

Assim como exibem os dados acima, Craveiro também conta ter vivenciado uma dessas situações, em que foi convidada a sair com um político relativamente conhecido da época para aumentar os benefícios profissionais, precisando reunir toda sua diplomacia para se impor e, por vezes, colocar a pessoa no devido lugar.

Tendo passado 14 anos como diretora-executiva da CBN e mais 25 como chefe de reportagem no O Globo, a jornalista Mariza Tavares também nos conta sobre os abusos de autoridade que tomou conhecimento durante sua trajetória:



Figura 3 Imagem autoral - Ana Caroline Enis B. Parejo, entrevista com Mariza Tavares

Por mais que as mulheres estejam acostumadas a se desvencilhar de situações desconfortáveis, ainda é preciso muita coragem e suporte para colocar alguém com um pensamento machista de volta nos trilhos do respeito, independente de qual seja a sua posição, principalmente em uma profissão que depende de posturas e relações humanas.

Por isso, é primordial a produção de cartilhas definindo o assédio e a criação de canais internos específicos para que vítimas de abuso, violência e desrespeito possam fazer uma denúncia formal, também indicando os procedimentos a serem adotados pelas repórteres que forem vítimas destes atos, deixando claro que as mulheres podem, sim, usar a própria voz para impor seu lugar nas redações e noticiar o direito da valorização dentro da própria profissão.


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